TiroLiroLiro
junho 25, 2014
fevereiro 03, 2014
outubro 15, 2013
Espécie: Português (I)
Espécie internacionalmente reconhecida desde 1143, o
Português ainda hoje suscita grande curiosidade, sobretudo pela sua aparente
calma perante desastres de vária ordem.
O Português considera-se bem-falante,
astuto, inteligente e, de algum modo, superior às restantes espécies da família
dos humanos. Pesquisas revelam, todavia, que o Português é manso, invejoso e
comodista. Mede o seu bem-estar por comparação ao bem-estar dos outros,
manifestando particular felicidade quando os seus semelhantes estão na m*rda.
Do mesmo modo, tendo por riqueza toda e qualquer acumulação de bens materiais a
que pode, ou não, dar o devido uso, verifica-se que os seus objectivos de vida
passam por ter uma casa maior e mais vistosa do que a do vizinho, um carro com
maior cilindrada e mais recente do que o do vizinho, um iPhone, um iPad e
gadgets semelhantes, que usa com orgulho em locais públicos. Gosta de roupas
“de marca”, nem que, para as obter, tenha de fazer o grande sacrifício de
procurar locais de contrafacção, correndo toda uma série de riscos para lá
chegar, incluindo desrespeitar limites de velocidade e usar o telemóvel
enquanto conduz, o que, facilmente, nos levaria a caracterizá-lo como corajoso.
O Português considera-se culto.
As suas fontes de cultura são, porém, diferentes das de outras espécies
humanas. De fácil entretenimento, o Português gosta de passar horas a observar
a vida dos outros. Noutros tempos, fazia-o à janela e disso falava nas
esquinas, com outros membros da mesma espécie. Nos tempos que correm, prefere
fazê-lo nas redes sociais ou através de programas televisivos, que lhe trazem
imagens da vida de gente que o Português nunca conheceu, nem nunca conhecerá,
mas que lhe proporciona alguns momentos hilariantes.
No seu ambiente mais próximo, o
Português é bastante preocupado com os que o rodeiam, chegando a saber mais das
suas vidas do que da própria. Mas sempre com a melhor das intenções, visto que
o Português nunca faz as coisas por mal. É também o que se designa como bom
treinador de bancada - ou do sofá: ele, que está de fora, vê sempre tudo de
outro modo e tem a certeza que, se fosse ele, faria tudo diferente e,
obviamente, mil vezes melhor! Aliás, o Português é uma espécie que tem muita
necessidade de falar, mesmo do que não sabe, acabando por cair, com frequência,
numa diarreia verbal sem sentido, ao ponto de, a dado momento, nem ele perceber
muito bem aquilo que quer nem aquilo que diz. Estas diarreias manifestam-se,
sobretudo, no que diz respeito ao futebol e à política. Relativamente a esta, o
Português revela uma inteligência fora do comum, pois nunca é o responsável
pelas más escolhas eleitorais. Este hábito de culpar sempre os outros é, de
resto, uma característica tão enraizada que até os governantes o fazem.
O Português gosta de se gabar,
principalmente de tudo o que nunca fez, nem nunca faria ou fará. A sua
capacidade para imaginar cenários alternativos, contudo, é tal, que o faz com
uma destreza inigualável. O Português típico existe em todos os cantos e
recantos de Portugal - e do mundo - e todos conhecemos, pelo menos, um espécime.
Felizmente, a espécie tem também alguns bons exemplares, que, remando contra a
maré, ainda acreditam que podem mudar rumos e mentalidades. Queira o Português
típico que nunca assim deixe de ser. De outra forma, lá se vai a sua sorte.
agosto 24, 2013
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julho 28, 2013
julho 27, 2013
julho 23, 2013
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«À nossa volta, o perfume dos pêssegos era quase
insuportavelmente intenso. Lá fora, o vento sacudia as janelas. Quando o Autan
sopra, os agricultores desta região arrancam as folhas das suas árvores de
fruto para evitar dar mais vantagem às rajadas que se arremessam contra as
árvores, sacudindo os frutos maduros dos ramos. Para alguém de fora, isto
talvez pareça cruel, mas a alternativa é ramos partidos e uma colheita
arruinada. Há uma época para acarinhar as árvores de fruto, como a minha amiga
Framboise costumava dizer, assim como uma época para as tratar com aspereza. As
crianças não são assim tão diferentes. Nem umas nem outras beneficiam com um
excesso de sensibilidade.»
(Joanne Harris, in “O Aroma das Especiarias”)
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